Com a aproximação de seu 131º aniversário, comemorado na
última segunda-feira, 26, Santo Antônio do Jardim recebeu um “presente
antecipado”. No dia 20 de março, o município foi destaque em artigo
do ex-secretário da Agricultura e do Meio Ambiente de São Paulo, Xico Graziano,
publicado no jornal “O Estado de São Paulo” (veja abaixo a íntegra do artigo).
No texto, Graziano cita a mobilização dos municípios com a
causa ambiental, principalmente no que diz respeito aos recursos hídricos,
mencionando a premiação do Pacto das Águas, como conquista a que se deve “tirar
o chapéu”, em alusão às práticas de recuperação e conservação executadas pelos
municípios que conquistaram o Prêmio.
É mais um lisonjeiro e importantíssimo reconhecimento ao
destaque que Santo Antônio do Jardim vem alcançando em âmbito regional,
estadual e até mesmo nacional, nas mais diversas áreas em que o desenvolvimento
e o progresso são promovidos pela atual administração pública, em suas muitas
formas de trabalho pelo bem do povo jardinense
Agenda azul
O 6.º Fórum Mundial da Água, realizado de 12 a 17 deste mês
em Marselha (França), não deixou margem para dúvidas: ou se investe
decididamente na proteção dos recursos hídricos do planeta ou a civilização
humana padecerá de terrível escassez. Que já se manifesta.
Relatório da ONU apresentado no encontro aponta a irrigação
agrícola como séria questão a ser enfrentada. Primeiro, porque tal técnica
demanda muita água, cerca de 70% do total; segundo, dada a dramática
necessidade de alimentar uma população que deverá atingir 9 bilhões de pessoas
em 2050. Conforme as revisadas, e mais precisas, estimativas da Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a produção de comida
precisa crescer 60% nesse período, e isso só parece possível aumentando as
áreas irrigadas no campo.
Resultado: vai aumentar a necessidade de água para as
lavouras, em especial nos áridos países do Oriente Médio, que, aliás, importam
cada vez mais alimentos. Mudanças climáticas devem alterar o padrão das chuvas,
causando secas mais prolongadas e derretimento de geleiras. Tudo conspira
contra o abastecimento. Estudos indicam que sem decididas políticas de manejo
de água 40% da população mundial viverá em áreas de alto estresse hídrico até
2050.
Estimativas de longo prazo, claro, sempre carregam muita
incerteza. A terrível seca, porém, que afetou, em 2011, as grandes planícies
norte-americanas, prejudicando a irrigação e restringindo a água para consumo
humano, pareceu um aviso recente dos céus. No Brasil, novamente o fenômeno
climático La Niña
provocou forte estiagem, derrubando a safra e arrancando os cabelos dos
agricultores sulinos. Dentre as dúvidas, uma certeza: preservar os mananciais
d'água será estratégico nas políticas sustentáveis do futuro.
A situação anda preocupante. Cerca de 25% das áreas
agrícolas mundiais se degradam, de forma mais ou menos severa, em decorrência
da má, e intensiva, agricultura. Esta depaupera os recursos hídricos, reduz a
fertilidade dos solos, aumenta a erosão. A contínua irrigação tem levado à
salinização dos solos em certos locais, fazendo decair a produtividade
agrícola. Lençóis freáticos, bombeados para a superfície, aprofundam-se,
prejudicando o enraizamento das plantas; o desmatamento e os ventos causam
desertificação. Na Espanha, na Austrália, nos Estados Unidos, na África, por
onde se procura se percebem ameaças à segurança alimentar.
Olhos enviesados atribuem à agricultura o papel de vilã na
equação mundial da água. Algo injusto. Acontece que, mesmo gastadora, a prática
da irrigação rural pouco compromete a qualidade da água, exceto quando esta se
contamina com resíduos de agrotóxicos persistentes, comuns no passado, mas
pouco utilizados hoje em dia. Depois de regar as plantas, via aspersão ou
gotejamento, o precioso líquido se percola pelas entranhas da terra, corre para
os riachos ou se evapora, cumprindo o ciclo natural da água.
No uso urbano, ao contrário, o abastecimento das residências
polui organicamente as águas nos vasos sanitários, na pia da cozinha e na
lavanderia ela se mistura ainda com detergentes e saponáceos. Já nas unidades
industriais, as águas utilizadas contaminam-se com solventes e demais produtos
químicos, que lhes roubam a vida. Nas cidades, que ninguém duvide, a demanda e
a poluição são tremendas.
O Fórum Mundial da Água de 2012 contou, entre as 180
delegações participantes, com a presença de uma orgulhosa comitiva paulista.
Ela representava o bem-sucedido Pacto das Águas São Paulo, um programa que
nasceu há três anos às margens do Rio Jacaré-Pepira, no município de Bocaina.
Ali, tendo à frente o então governador José Serra, centenas de prefeitos e outras
autoridades municipais se comprometeram a aderir ao Consenso das Águas de
Istambul (Turquia), documento histórico que define tarefas na gestão
descentralizada dos recursos hídricos.
Esse azulado movimento ambientalista, organizado pela
Secretaria do Meio Ambiente do Estado (www.ambiente.sp.gov.br/pactodasaguas),
cresceu sem parar, ultrapassando as expectativas iniciais. Dentre os 1.070
signatários, oriundos de 49 países, do Consenso das Águas de Istambul, 595
adesões originam-se nos municípios paulistas. Notável. O Pacto das Águas São
Paulo configura o maior programa já realizado no Brasil em defesa dos recursos
hídricos, com foco na gestão local, dentro das bacias hidrográficas. Lição de
casa bem feita.
Em fins do ano passado, o governo paulista promoveu uma
avaliação do desempenho dos municípios, premiando os primeiros colocados. Entre
os de maior população, 94 municípios cumpriram as metas estabelecidas no
programa em defesa das águas, capitaneados por Sorocaba, Tupã, Paulínia,
Itapira e Batatais. Já entre os pequenos municípios, abaixo de 20 mil
habitantes, 135 deles mostraram os melhores resultados, liderados por Regente
Feijó, Bilac, Bocaina, Lindoia e Santo Antônio do Jardim. Podem tirar o chapéu
para eles.
Por todo o Estado de São Paulo corredores ecológicos se
formam sinuosamente, acompanhando os córregos. A recuperação dessa mata,
chamada ciliar, como se os olhos abrigassem, garante a plena função ambiental
da biodiversidade, promovendo a junção do verde (vegetação) com o azul (água).
Na beirada dos riachos, no entorno das nascentes, ao redor dos lagos, nessas
paragens a vida selvagem floresce, a natureza torna-se exuberante. Água é vida.
No dia 22 de março se comemora o Dia Mundial da Água. Mais
do que discursos, gestos de simpatia e lembranças nos bancos escolares,
esperam-se ações concretas - coletivas e individuais - em defesa da agenda
azul.
Água potável, mundo sadio.
* Xico Graziano, Agrônomo, foi secretário de
Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail:
xicograziano@terra.com.br
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